Em Deus nós confiamos, todos os outros devem trazer dados.

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Gosto de usar esta frase do estatístico Deming em minhas apresentações porque é a mais pura verdade: sem dados não se consegue provar nada.

Sem dados ficamos no “achismo”: eu acho que meu serviço é seguro, eu acho que a nossa taxa de náuseas e vômitos é baixa.

Desde 2004 fazemos o gerenciamento de riscos dentro do nosso grupo de anestesia, ou seja, todas as anestesias realizadas pelo meu grupo (cerca de 1.200/mês) vão para um banco de dados e, a partir deles, implementamos ciclos de melhoria.

Com dados, traçamos o perfil dos nossos pacientes: por ser um hospital oncológico, mais de 20% possuem doenças sistêmicas severas com limitação funcional (classificação pela ASA maior do que 3).

Com dados, descobrimos em 2013 que as maiores complicações ocorriam nos sistemas cardiovascular e respiratório
(manejo de vias aéreas).

Pensando nisso, enviamos duas pessoas para um congresso internacional da Society for Airway Management, viagem paga pelo grupo, para trazer o que havia de novo no assunto. Criamos um carrinho de via aérea, treinamos o grupo no manejo da fibroscopia (padrão-ouro nos casos de via aérea difícil), compramos dispositivos de via aérea. O que observamos foi uma melhora estrondosa no maneja das vias aéreas. Hoje, todos os anestesiologistas do grupo sabem intubar com o auxílio do fibroscópio; em 2013, eram apenas 6.

Quanto ao aparelho cardiovascular, decidimos criar um novo protocolo de monitorização baseado no porte cirúrgico e na avaliação do status clínico do paciente (classificação de ASA).

Mais uma vez, estabelecemos parâmetros de referência, adquirimos monitores, treinamos. O resultado?

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Com a melhor monitorização hemodinâmica e da profundida anestésica, diminuímos o uso de colóides e o volume total infundido em 1,5ml/kg/h.

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A otimização hemodinâmica e o uso guiado de anestésicos levaram a quedas expressivas nas taxas de infecção do trato urinário e delirium pós-operatório.
Observamos também em uma redução de quase 1 dia no tempo de internação destes pacientes submetidos a cirurgias abdominais abertas.

Parece pouco mas, quando consideramos um hospital de 500 leitos, isso equivale a 61 novos leitos, por melhorar a eficiência.

Este nosso trabalho, inclusive, foi publicado recentemente.

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O cientista de dados Ricardo Cappra deixa claro que eles “torturam dados até que revelem algo valioso”. Foi isso o que fizemos lá em 2013!

Estes resultados só foram possíveis através da coleta sistemática de dados das anestesias realizadas e da adesão do grupo.

Não ter dados, é como este quadro de Goya denominando La Gallina Ciega:

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Você está no escuro e nunca saberá quando e quem irá acertar.

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